EVANDRO MUÑOZ

Oi, Evandro, bom dia, tudo bem, você está por aí? Inicio a ligação via whatsapp.

“- Oi, estou dirigindo, Alexandra!”, ele me avisa, enquanto mostra a paisagem dos arredores: céu azul, límpido, cercado por relevo montanhoso. Natureza. Da mais pura. Virgem. “Queria que você desse uma olhada nessa vista,” ele me diz dando risada. Estou olhando, nesse momento, para um recorte de Lanzarote, nas Ilhas Canárias, na Espanha. Acho que entendo o por quê desse riso solto dele, penso comigo mesma.

É lá que Evandro mora e fundou, faz 12 anos, o clube de surfe Lanzasurf.

“Saí do Brasil por conta da perda de um irmão. Meu irmão era meu mestre, meu professor. Ele saiu de casa um dia para comprar um pneu para a moto dele, e nunca mais apareceu. De tanta tristeza, resolvi procurar outro país e um lugar novo, que tivesse outras ondas e outras culturas, para continuar a vida.”

O surf entrou em sua vida desde criança, segundo ele conta. O irmão e a irmã, mais velha, já surfavam. “Eu ia atrás deles. As pranchas, as camisetas e as bermudas eram reaproveitadas de um para outro.” Aos 11 anos, Evandro corria campeonatos. “Tinha patrocínio de uma marca chamada Small Face,” recorda. Surfava na Vila Caiçara, na Praia Grande, litoral sul paulista. Aos 18 anos, começou a frequentar mais Ubatuba.

Tem uma história engraçada, inclusive, que ele conta que aconteceu na praia da Itamambuca. O ano era 1988. “Fui para Ubatuba com minha mãe e meu irmão, acompanhar as baterias do campeonato mundial realizado pela Sundek, que reuniu legends como Tom Curren e Tom Carroll. Eu entrei na bateria no meio do campeonato e rapidamente veio um segurança me tirar da água. Quando ele chegou perto de mim, peguei uma onda, saí rapidinho. Quando saí da água, meu irmão me advertiu, saia fora, os caras vão te bater… Mas nunca deu em nada.”

Antes de aportar em Lanzarote, Evandro foi conhecer a Espanha. Seu pai era espanhol e seus primos já tinham ido para o país a trabalho. “Não pensei duas vezes, vim de cabeça para cá,” conta. Seu primeiro emprego foi como instrutor de rafting. Após uma temporada de seis meses e economias, Evandro foi pegar as ondas de Mundaka, Hossegor e Biarritz. “Voltei para o Brasil, fiquei em Florianópolis. Meus pais moravam lá na época. Daí retornei para mais uma temporada de rafting na Espanha. Eu já tinha gostado de tudo lá, achei a vibe muito boa.”

Evandro começou então a procurar na internet aonde é que ficavam as melhores ondas da Europa. Nas buscas, encontrou as ilhas Canárias. E foi para lá que ele decidiu passar as férias, já chegou dirigindo um furgão. Era outubro, época das ondas: “A hora em que cheguei e vi as ondas, pensei, daqui não saio mais. As ondas, os cenários, fui abraçado pelo lugar.” Fez então vários cursos: de técnico, salva-vidas, instrutor de surf e juiz. Com os títulos em mãos, montou o clube Lanzasurf. “Vi que muitas crianças da ilha não surfavam. Trabalhei durante três anos com as crianças daqui, organizei campeonatos, de surfe e também de skate, ensinei tudo o que eu sabia. Mas o trabalho com as crianças locais não me dava retorno financeiro suficiente para morar aqui. Decidi então montar uma escola de surf voltada para o turista. Montei uma página na web, e aos poucos começaram aparecer os primeiros clientes. Hoje o movimento está legal, e muitos clientes voltam para cá todos os anos.”

Com o Lanzasurf, Evandro também faz Surf Safaris, ou seja, leva o ávido turista surfista para conhecer os melhores picos de surf da região.

“Todos os dias eu acordo, levo meu cachorro para passear e aproveito para ver o mar e as condições das ondas, direção, tamanho, vento e maré. Depois tomo café da manhã e vou para a Lanzasurf. Chego lá, preparo as pranchas e as roupas de borracha. Tem parafina e também lanche, água e suco. Antes de começar as aulas, faço yoga, e assim estou pronto para receber os primeiros clientes.”

Ao lado de Evandro, mais quatro profissionais trabalham no Lanzasurf. Juntos, eles propagam a missão de dividir a sua experiência a paixão pelo surfe, e torná-lo possível para todos os surfistas, dos iniciantes aos de nível avançado.

“Me sinto afortunado. Estou com 40 anos, venci muitas dificuldades. Depois disso, só penso em viajar e surfar. Acabei de voltar da América Central; vou para a Indonésia daqui um mês, quero mais é viajar. Tenho minha casa em Itamambuca, aqui, tenho meu trabalho. A vida muda tão rápido, que eu quero mais é pegar onda.”

Mais sobre Evandro e Lanzasurf: http://www.lanzasurf.com