CARLOS ALBERTO QUINTANA FERREIRA DA COSTA (BEBETO)

Carlos Alberto Quintana Ferreira da Costa – ou simplesmente Bebeto -, como é conhecido um dos primeiros moradores da Praia do Rosa, em Imbituba, SC, que há mais de 20 anos toca uma pousada própria com a família no local.

“Estava descontente com o auê que era minha casa. Eu trabalhava e o pessoal vivia de festa. Pedi demissão do emprego, terminei um casamento e fui morar no Rosa. Sim. Mudou tudo,” conta Carlos Alberto Quintana Ferreira da Costa – ou simplesmente Bebeto -, como é conhecido um dos primeiros moradores da Praia do Rosa, em Imbituba, SC, que há mais de 20 anos toca uma pousada própria com a família no local. 


Mas nem sempre sua vida foi assim. 

Bebeto nasceu no Rio de Janeiro, é filho de pai militar. Passou a infância em Alegrete, RS, criado pelos avós. Morou no Rio de Janeiro, chegou a morar em Ipanema, época em que, segundo ele, “a diversão era caminhar até o Arpoador para ver as meninas de duas peças”. Depois foi para o Colégio Militar de Porto Alegre até se formar na UFRGS como Engenheiro Mecânico. Na época da faculdade, concorreu para vaga de um curso de formação da IBM. “Era muito disputado, mas eu passei, e meu trabalho era ensinar os novos compradores a operar e programar a máquina adquirida. Assim eu viajei pelos cantos do Rio Grande do Sul e depois saí da empresa em busca de novas ofertas,” explica.

Até então, ele não imaginava o que era surf. Não surfava, nem conhecia o mundo do surf. Mas largou do emprego na IBM. Terminou um casamento. Mudou de vida. E se antes vivia a vida de terno e gravata, hoje é nos cuidados com jardim que ele se sente pleno de verdade.

Contar a história de Bebeto é falar sobre um dos primeiros habitantes da Praia do Rosa. “Quando tinham apenas seis ou sete famílias do Rio Grande do Sul morando aqui,” contextualiza. Foi de maneira acidental que ele parou de fazer móveis e instalações elétricas, duas de suas ocupações na época, para se tornar o diretor financeiro da então embrionária Mormaii.

“Soube que o Morongo (o dono da Mormaii), procurava por um professor de computador para o filho. Fui lá, me apresentei, e logo estava dando aula para os totós e para o Morongo. Também para o Tales Hartmann (dono da Silver Bay) e o Darcy Guimarães. Mais tarde fui chamado para ficar na administração. Foi trabalhando junto dos competidores, fornecedores e compradores de material esportivo, que me enfiei de cabeça na indústria do surf.”

Segundo ele, na época, na Mormaii, os processos eram bem primitivos. “A Mormaii era uma fábrica de fundo de quintal. Era tudo anotado no caderno. Eu cheguei para organizar as informações no computador, toda a parte financeira. Foi o Morongo quem me deu minha primeira roupa de surf, eu aprendi a surfar sozinho.” 

Nessa época, com 30 anos de idade, Bebeto experimentava a vida tranquila do Rosa. Na verdade, tranquila não é bem a palavra. Era mais do que isso…

“Quase todos os moradores aqui no início foram pessoas que, de certa forma, desistiram de trabalhar na cidade e vieram viver o movimento hippie. Era a maior loucura. A gente ficava pelado na praia. Subíamos o morro, comíamos cogumelos, pegávamos onda. Todo mundo era formado. Um trabalhava no jornal, o outro na publicidade; outro era fugido da polícia… Era como uma comunidade, todo mundo era tio de todo mundo. Era assim. Com o tempo, a praia foi deixando de ser nossa. Rolou uma espécie de encolhimento, um momento em que não cabia mais aquela vida aberta para todo mundo. Tem uma história engraçada. O pessoal de Garopaba, que era conhecido por ser mais careta que a gente, tinha muito medo de que o pessoal do Rosa fosse nas festas, sabe? Éramos enlouquecidos. Era tudo muito louco. A gente fazia o que a gente chamava de ‘Trenzinho do Rosa’. Era assim: no meio de uma festa, a gente grudava, e ficava um atrás do outro. O da frente era o maquinista e era sempre alguém de Garopaba – ou o próprio dono da festa. Bah! Os caras não gostavam nem um pouco de ir na frente, ficavam enlouquecidos, se cuidando a toda hora na festa para que não ‘pintasse a centopéia do Rosa’…”

ROSEBUD: DE ORSON WELLES PARA IMBITUBA

Rosebud, o trenó do filme de Orson Welles, é o nome que Bebeto escolheu para chamar a pousada – formada por um conjunto de chalés incrustados em um dos morros da praia do Rosa, com piscina, rede, vista para o mato e para o mar e café da manhã. Todo aconchego. Junto do casal, mora a filha Isadora Costa, que é longboarder, e já foi campeã catarinense por três vezes. Bebeto tem também um filho, Gabriel Vicente, que é longboarder e shaper e, assim como a filha, já foi campeão catarinense de longboard. 

“Quando me juntei com a Nani, deixei minha casa no Rosa para a minha ex e começamos a morar em uma casa aqui. Quando fomos surfar em Barbados, lugar colonização inglesa, percebi que eles não tinham números nas casas, mas sim nomes. O filme “Cidadão Kane” (Orson Welles) me marcou muito: um dos enigmas do filme remete ao trenó Rosebud, que simboliza que os valores sentimentais valem mais do que qualquer quantia em dinheiro. Foi a inspiração para chamar minha casa de Rosebud. Faz 23 anos.” 

No meio do papo, via telefone, pergunto para Bebeto sobre as mudanças que ele sentiu com a reviravolta da vida. 

“Sou muito feliz. Quando me encontro com amigos que continuaram nessa vida, bah, ficaram todos caretas. Não que eu não seja careta, eu tenho todos os compromissos da pousada. Mas se for ver a forma de se vestir, a criação dos filhos, a relação com as esposas… Ficaram todos muito formais. Não que sejam bem ou mal-sucedidos, mas, ao meu ver, é uma vida formal.  Temos chinelo de dedo, tênis, por exemplo, aqui não tem roupa social. Quando tem um casamento, é um ‘Deus- nos-acuda’ para arrumar um terno. Ninguém tem nem para emprestar. A gente vive de uma forma mais desligada aqui, sai sem trancar o carro, essas coisas…”

Para Bebeto, o lema da vida é sobre complexidade e contradição. “Tem um americano, um amigo meu, que é advogado, pega onda, tem casa na Califórnia. A vida dele se resume a tirar pessoas do corredor da morte nos EUA. Toda vez que ele consegue livrar alguém do corredor da morte (e claro, a pessoa continua com a prisão perpétua por cumprir), é um grande êxito. Ele viaja o mundo fazendo isso. Um dia, conversando com ele, eu disse: ‘Na vida, tudo muda’. Ele me respondeu: ‘- Adorei, Bebeto’. ‘Everything changes’ (tudo muda, em inglês) ele repetia a toda hora [repete Bebeto, entre risos, pelo telefone, com um sotaque único]. Ele me disse que esse passou a ser o lema dele. E é verdade, tudo muda.”

Site Rosebud: http://www.therosebud.com.br/